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Narrador 6º – Alex
Enquanto o subchefe Almeida – segundo a chapa de identificação ao peito – acaba de me explicar que terei de o acompanhar à esquadra a fim de depor como testemunha do processo, vejo aproximar-se um homem alto com ares de alemão e que se identifica como inspector da polícia judiciária. O subchefe da PSP deixa-me por um momento com o fim de receber o senhor inspector e eu distraio-me por um instante a ver os bombeiros transportarem o corpo da vítima para a ambulância. Quando os vejo outra vez, o tipo da farda azul que ainda agora estava a falar comigo está a apontar para mim. Os dois vêm caminhando na minha direcção, devagar, conversando sobre qualquer coisa que não consigo captar e quando finalmente chegam ao pé de mim, o inspector da judiciária pede ao subchefe Almeida que nos deixe a sós por um momento. Por um momento, fico nervoso, mais do que há pouco, deveras arrependido de ter participado a ocorrência à polícia e aos bombeiros. Uma pessoa cumpre a sua obrigação e depois é tudo isto, montes de perguntas, depoimentos na esquadra, burocracias estúpidas, sei lá. Mais parece que num ápice me transformo num criminoso ao invés de testemunha. Testemunha de coisa nenhuma, uma vez que não vi qualquer ocorrência. Quando cheguei, já o homem estava ali caído, corpo na estrada, cabeça rachada no passeio, sangue por todo lado. Ninguém viu nada. O inspector que tem ares de alemão mas é português começa por me perguntar se não tenho frio, ao ver-me de camisa fina numa noite de Janeiro como esta. Um frio terrível, sem dúvida. Respondo que cobri o corpo da vítima com o meu casaco, na esperança de que este ainda estivesse vivo. Faz um olhar desconfiado e pergunta-me se toquei no corpo. Garanto-lhe que não e dou uma explicação plausível. Avança, tentando saber se falei com a vítima, explico que tentei acordá-lo em vão, adiantando ainda que berrei por duas ou três vezes, ó amigo, ó amigo, uma vez que não conhecia a vítima e não lhe podia chamar pelo nome. Após isto, a rasteira, de onde conheço a vítima? Acabei de lhe dizer que não conhecia o tipo e ele vem-me com esta. O senhor inspector a tentar apanhar-me em contra-mão, mas em vão. Friso mais uma vez que não conheço a vítima de lado algum. Aguardo pela próxima rasteira quando por fim este dá por terminada a conversa, entregando-me na mão um cartão em que se apresenta por Inspector Garcia e no qual consta o seu número de telefone móvel. Diz que é para o caso de me lembrar de mais alguma coisa útil após o depoimento que vou deixar na esquadra e que lhe há-de ser entregue.
- Sou suspeito, senhor inspector? – Questiono, mais seguro de mim e com um ar provocador.
- Para já, está só a testemunhar. Suspeitos, somos todos, meu caro. – Responde friamente, enquanto se afasta e caminha de novo na direcção do subchefe Almeida da polícia de segurança pública.
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