Nota do autor:
Esta é a única oportunidade que me dão para usar da palavra durante toda peripécia que decorre daqui a diante. Não é justo, eu sei, eu propus-me a criar a história, a pensá-la, e depois de muito correr à procura de personagens à altura da história, de um casting rigoroso, lá encontrei uma série de gente cheia de problemas e com muitíssimas perturbações sentimentais e emocionais que de imediato aceitaram a oferta para trabalhar neste texto a que resolvi chamar de “o caçador de dons”. O pior aconteceu quando a dada altura uma das personagens convoca uma reunião extraordinária e exige que eu seja posto de lado deste projecto, diz ele que pela razão de que eu poderia colocar em perigo a história, por saber demais e correr o risco de desvendar demasiado cedo aquilo que se quer reservado apenas para o final de uma história como esta. “Mas se eu for demitido, quem narrará a história?”, a pergunta era obviamente a minha salvação, só eu conhecia a história à altura de poder narrá-la e julguei eu que o meu lugar neste projecto estava de novo salvaguardado. Puro engano! Resultado de reuniões sem fim, onde cada uma das personagens ficou a saber exactamente aquilo que se pretendia delas durante a história, quem melhor para a narrar que elas próprias? Era sem dúvida o meu fim nesta história, posto de lado, daria muito trabalho arranjar mais uma dúzia de personagens à altura que aceitassem trabalhar comigo nas condições que eu exigia, e mesmo que o conseguisse, seria tarde demais, já a história deles estaria completamente acabada e publicada e o mínimo que me podia acontecer ao lançar algo idêntico era ser acusado de plágio, coisa a que um autor que queira reservar algum futuro neste meio não quer nunca ser sujeito de estar sob suspeita. Desisti, pois então, entregando-lhes toda a responsabilidade da narração, aceitando que a minha função daí para a frente fosse apenas representá-los na apresentação da obra às editoras, aos leitores e à comunicação social, emprestando o meu nome à capa e escrevendo qualquer coisa numa nota de autor desde que nesta não denunciasse nunca qualquer facto da história que se segue. Àqueles que ainda tentaram defender que fosse eu o narrador, aqueles poucos que se recusaram a assumir esse papel, participando na história meramente como personagens, aos que escolheram enveredar pelo plano inicial, os meus agradecimentos sinceros. Aos outros, espero bem que tenham feito alguma coisa de jeito, eu não assumo quaisquer responsabilidades por descrições mal feitas, exageros ou distorções da realidade primeiramente pensada para o desenrolar desta narrativa. Aos leitores, apenas a informação que nas sessões de autógrafos serei eu a assinar os vossos livros, não se preocupem.
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